Novo Procurador-Geral da República mantém discurso do passado e admite dificuldades no combate aos raptos
A Procuradoria-Geral da República (PGR) iniciou uma investigação confidencial que envolve elementos ligados à equipa do político Venâncio Mondlane, apurou o nosso jornal. Os contornos da operação permanecem sob sigilo, e as autoridades não avançaram detalhes oficiais sobre os alvos ou a natureza da investigação.
Enquanto isso, o recém-nomeado Procurador-Geral da República, Américo Letela, compareceu ontem à Assembleia da República para apresentar o relatório anual do Ministério Público referente ao ano de 2024. Durante a sessão, Letela reconheceu a participação de “alguns magistrados e agentes da polícia” em casos de rapto, sublinhando, contudo, as dificuldades em identificar e responsabilizar os autores intelectuais destes crimes.
A posição de Letela parece dar continuidade à linha de atuação da sua antecessora, Beatriz Buchili, que durante mais de uma década foi criticada pela ineficácia no combate a esta prática criminosa. Apesar da mudança de liderança, a percepção generalizada é de que pouco ou nada se alterou na abordagem da instituição.
A intervenção do novo Procurador foi recebida com cepticismo por parte de vários sectores da sociedade civil, que esperavam um sinal de mudança. “Se o novo PGR reconhece a gravidade da situação, mas declara não ter soluções concretas, que valor acrescenta ao cargo?”, questiona um analista ouvido pelo nosso jornal. Para muitos, declarações como as de Letela reflectem falta de estratégia e comprometimento com os desafios do sector da Justiça.
Com regalias institucionais asseguradas — desde residência protocolar a viatura oficial —, aumenta a pressão sobre o novo responsável máximo do Ministério Público para que apresente resultados palpáveis. As expectativas são claras: menos retórica e mais acção. Resta saber se Letela conseguirá quebrar o ciclo de inoperância que tem marcado a instituição nos últimos anos.