Telegramas da WikiLeaks Expõem Alegadas Ligações da FRELIMO ao Narcotráfico Internacional
Documentos diplomáticos confidenciais divulgados pela WikiLeaks e citados pelo jornal francês Le Monde apontam para alegadas ligações entre figuras de topo do Estado moçambicano e redes internacionais de tráfico de droga. Segundo os telegramas, enviados pela embaixada dos Estados Unidos em Maputo, Moçambique é actualmente considerado o segundo principal ponto de trânsito de estupefacientes em África, apenas atrás da Guiné-Bissau.
Os relatos sugerem que existe uma colaboração entre redes criminosas e dirigentes do Estado, incluindo elementos ligados à FRELIMO, partido no poder desde a independência do país em 1975. Entre os nomes mencionados encontram-se os antigos chefes de Estado Joaquim Chissano e Armando Emílio Guebuza, este último tendo sucedido ao primeiro na liderança do país.
Um dos documentos, datado de Setembro de 2009, alerta para uma "tendência preocupante" do tráfico de drogas em Moçambique, indicando que subornos a agentes da polícia e autoridades de imigração se tornaram prática recorrente. As substâncias ilícitas teriam como origem países como o Brasil, Afeganistão, Paquistão e Índia.
Embora os telegramas não classifiquem Moçambique como um “narco-Estado”, reconhecem o papel central do país na rota internacional de narcóticos com destino à África Austral e à Europa. Estes dados confirmam análises anteriores de especialistas que estimam que mais de uma tonelada de cocaína e heroína passa mensalmente por território moçambicano. Além disso, os documentos antecipam conclusões semelhantes ao relatório de 2010 do Departamento de Estado dos EUA sobre o controlo de estupefacientes.
Dois cidadãos moçambicanos de origem asiática são apontados como figuras centrais neste alegado esquema: Mohamed Bachir Suleiman (conhecido como “MBS”) e Ghulam Rassul Moti. De acordo com os telegramas, Moti, associado ao tráfico de haxixe e heroína no norte do país, terá alterado a sua estratégia de suborno, passando a efectuar pagamentos directamente a altos responsáveis da FRELIMO, em vez de subornar funcionários locais.
Por sua vez, Mohamed Bachir Suleiman é descrito como um dos principais financiadores do partido no poder, contribuindo significativamente para as suas campanhas eleitorais. O seu nome surge numa lista publicada durante o verão pelo Office of Foreign Assets Control (OFAC), entidade do Departamento do Tesouro dos EUA, que em Junho ordenou o congelamento de bens de três empresas sob sua titularidade, alegadamente ligadas ao narcotráfico.
Estas revelações intensificam os alertas sobre a infiltração do crime organizado no aparelho do Estado moçambicano e levantam sérias preocupações quanto à integridade das instituições nacionais.