A ex-primeira-dama de Cabo Verde, Lígia Dias Fonseca, expressou duras críticas ao discurso de Daniel Chapo, que tomou posse como o quinto presidente da República de Moçambique, no dia 15 de Janeiro. Para Fonseca, o discurso de Chapo não apresentou compromissos concretos com mudanças estruturais, nem soluções para a grave crise que afeta o país.
Em suas declarações, Fonseca destacou a falta de ações que pudessem gerar esperança no futuro próximo de Moçambique. “Nada acontece que nos faça acreditar em um futuro melhor”, afirmou, frisando a ausência de iniciativas que indicassem vontade de modificar o sistema de privilégios que beneficia uma minoria em detrimento do empobrecimento crescente da população.
A ex-primeira-dama também criticou o tom de indiferença do discurso de investidura, que, segundo ela, desconsiderou as manifestações populares que se intensificaram após as alegações de fraude nas eleições de Outubro de 2024. “Todos ouvimos o barulho da indignação, mas ele ouviu? Compreendeu? E se sim, o que compreendeu?”, questionou a advogada.
Fonseca qualificou de “cínico” o momento de silêncio realizado por Daniel Chapo, em homenagem às vítimas das manifestações, do ciclone Chido e do terrorismo em Cabo Delgado. Para ela, este gesto simbólico não refletiu a responsabilidade do Estado nos trágicos eventos que resultaram em numerosas mortes. “Após o silêncio, ele deveria ter tido a nobreza de pedir desculpas, em nome do Estado, a todos aqueles que perderam entes queridos devido à ação imprudente das forças de segurança”, afirmou.
A ex-primeira-dama defendeu ainda que, logo após o silêncio, Chapo deveria ter anunciado a abertura de um inquérito independente para investigar as responsabilidades dos agentes envolvidos nas repressões violentas e das chefias que as ordenaram. "Faltou-lhe coragem para se afastar, desde o início, do status quo", lamentou.
As declarações de Fonseca são parte de uma série de críticas que ela tem direcionado ao governo moçambicano. Em 11 de Janeiro de 2025, poucos dias antes da posse de Chapo, Fonseca publicou um texto no LinkedIn, acusando o ex-presidente Filipe Nyusi de ser um "presidente assassino". Para ela, Nyusi será lembrado pela sua indiferença à vida dos cidadãos e pelo aumento das mortes evitáveis durante o seu mandato. “Nunca houve tantos assassinatos em Moçambique, perpetrados por agentes do Estado ou pela total falta de proteção aos cidadãos no Norte do país, como durante o governo de Filipe Nyusi”, escreveu.
Além disso, em Novembro de 2024, Fonseca dirigiu uma carta aberta à então primeira-dama Isaura Nyusi, solicitando que usasse sua influência para pressionar o ex-presidente a cessar a repressão violenta contra os manifestantes e a iniciar um diálogo inclusivo com as forças políticas e sociais.
Daniel Chapo assume a presidência em meio a intensas contestações sobre a legitimidade das eleições de Outubro de 2024, que foram amplamente acusadas de fraude em favor do partido Frelimo, do qual Chapo é Secretário-Geral.
