Caso Bella Nota levanta suspeitas de silenciamento político em Moçambique
Maputo – Em Moçambique, quem ousa falar contra o regime parece não ter destino diferente: é calado. O mais recente episódio envolve Bella Nota, uma mulher que surgiu em transmissões ao vivo nas redes sociais afirmando ser do SISE (Serviço de Informações e Segurança do Estado) e que expôs alegados segredos comprometedores envolvendo a FRELIMO e o próprio Presidente da República, Daniel Chapo.
Nas suas denúncias, Bella Nota relatava pressões, perseguições e até tentativas de internamento forçado. Dias depois, a família veio a público afirmar que a mulher está hospitalizada e sob “acompanhamento médico especializado”. O comunicado, divulgado pelo Carta de Moçambique, incluiu ainda um pedido de desculpas às figuras supostamente lesadas e justificou as declarações de Bella Nota com “problemas de saúde mental”.
A versão oficial, no entanto, levanta sérias dúvidas. Não é a primeira vez que vozes dissidentes ou denunciantes acabam silenciadas de forma abrupta. Basta lembrar o caso de Vitano Singano, que após expor segredos sensíveis, foi neutralizado em circunstâncias pouco claras. A semelhança entre os dois episódios alimenta a suspeita de que hospitais e diagnósticos psiquiátricos possam estar a ser usados como novas ferramentas de repressão política.
Críticos apontam que esta situação expõe a fragilidade da democracia moçambicana, onde falar verdade parece ser um crime. O padrão repete-se: cidadãos que ousam desafiar o poder acabam em tribunais, no exílio, ou, como agora, em instituições hospitalares.
A questão que se impõe é simples: trata-se de um caso isolado de saúde mental ou de mais uma demonstração clara de que em Moçambique quem fala verdade paga caro, e quem denuncia o regime é silenciado sem piedade?
