Jovem de 20 anos morta em tiroteio envolvendo alegado "esquadrão da morte" na Matola
A cidade da Matola voltou a ser palco de violência armada na manhã desta quarta-feira, quando um ataque envolvendo alegados membros de um "esquadrão da morte" resultou na morte de uma jovem de apenas 20 anos. A vítima, segundo relatos de moradores, foi atingida mortalmente por uma bala que tinha como alvo um agente do Serviço Nacional de Investigação Criminal (SERNIC).
O episódio ocorreu nas primeiras horas do dia, junto a uma escola local, quando dezenas de estudantes se dirigiam para as aulas. A jovem, que se encontrava a caminho da escola, acabou por ser atingida e perdeu a vida no local. Uma criança que a acompanhava também foi atingida pelos disparos e encontra-se em estado grave, tendo sido transportada de urgência para o hospital provincial.
Testemunhas descrevem momentos de pânico generalizado: “Foram disparos sucessivos, as pessoas correram em várias direções, muitos alunos tiveram de se esconder dentro das salas de aula”, contou um residente da Matola. A cena deixou marcas de sangue e projéteis espalhados pela rua, indício da intensidade do ataque.
A polícia confirmou que o alvo inicial seria um agente do SERNIC, conhecido por estar a conduzir investigações delicadas contra grupos armados e redes de criminalidade organizada. O agente sobreviveu ao ataque, mas o incidente levanta sérias suspeitas sobre a atuação de grupos paralelos ao Estado, popularmente designados por "esquadrões da morte", que há anos são apontados como responsáveis por execuções seletivas e intimidações no país.
Organizações da sociedade civil já reagiram, denunciando a escalada da violência e a impunidade que envolve estes casos. “Não é a primeira vez que inocentes perdem a vida em confrontos deste género. O Estado deve esclarecer a quem realmente servem estes esquadrões e se a sua atuação não é, de alguma forma, tolerada por dentro das próprias instituições”, defendeu um representante de uma associação de direitos humanos.
Enquanto familiares choram a morte da jovem de 20 anos, que apenas pretendia chegar à escola, cresce a revolta da população local. A comunidade exige justiça, responsabilização e uma investigação transparente para que situações semelhantes não se repitam.
Contexto histórico dos “esquadrões da morte” em Moçambique
Os chwmados “esquadrões da morte” não são uma novidade em Moçambique. Há vários anos que diferentes relatos e denúncias os apontam como grupos armados operando de forma clandestina, muitas vezes associados a execuções extrajudiciais, perseguição de opositores políticos, vinganças internas ou até a proteção de redes de corrupção e crime organizado.
Apesar de raramente assumidos oficialmente, estes grupos ganharam notoriedade sobretudo a partir da década de 2000, quando várias figuras públicas, jornalistas e membros da oposição foram alvo de ataques misteriosos, quase sempre sem que os autores fossem identificados ou julgados. Casos de assassinatos de figuras ligadas a investigações criminais, ativistas sociais e até empresários levantaram suspeitas sobre a existência de uma estrutura organizada e treinada para eliminar alvos considerados “incómodos”.
Nos últimos anos, o termo voltou a surgir associado a episódios de violência urbana, principalmente em Maputo e na Matola, onde cidadãos têm sido apanhados no fogo cruzado. Organizações nacionais e internacionais de direitos humanos têm pressionado o Governo moçambicano para esclarecer a atuação destas estruturas e garantir que as forças de segurança atuem dentro da legalidade.
Para muitos analistas, a permanência do fenómeno deve-se à impunidade. “Enquanto não houver investigações sérias e julgamentos transparentes, a sensação de que a vida humana pouco vale vai continuar a crescer, e isso mina ainda mais a confiança dos cidadãos no Estado”, afirmou recentemente um investigador ligado à área da segurança.