A manhã de segunda-feira, 30 de Junho, ficará marcada como mais um capítulo sombrio na crescente cultura de repressão policial em Moçambique. Uma acção violenta e despropositada da Polícia da República de Moçambique (PRM), em conjunto com a Polícia Municipal, deixou um motorista gravemente ferido, três pessoas detidas sem justificações legais claras e pelo menos 14 viaturas apreendidas, num verdadeiro ataque à dignidade dos cidadãos.
Os alvos? Motoristas de “boleias pagas” — cidadãos que, diante do colapso do sistema de transporte público estatal, criaram uma alternativa essencial para a mobilidade da população.
Estes trabalhadores encontravam-se estacionados pacificamente nas imediações da Praça do Destacamento Feminino, na Avenida Julius Nyerere, à espera de passageiros. Nenhum deles representava uma ameaça à ordem pública. Ainda assim, foram tratados como criminosos perigosos.
Testemunhas relatam que os agentes da PRM deram apenas três minutos para que os motoristas saíssem do local, mas nem esperaram o tempo terminar. Abriram fogo com gás lacrimogéneo e munições reais, num acto que ultrapassa todos os limites da legalidade e da decência. O que se seguiu foi um cenário de caos: gritos, correria, pessoas a fugir para salvar a vida — tudo causado por aqueles que supostamente deveriam proteger a população.
Este episódio não é um caso isolado.
É mais um reflexo de uma polícia que se tornou símbolo da brutalidade, da arrogância e da impunidade. Em vez de servirem o povo, muitos agentes da PRM comportam-se como milícias estatais, prontas para esmagar qualquer expressão de iniciativa popular que revele o fracasso do Estado — neste caso, o colapso do transporte público.
Enquanto o governo fecha os olhos à miséria e ao sofrimento dos moçambicanos, a polícia age como cão de guarda de um sistema corrupto e incompetente. Não há diálogo, não há alternativas, não há humanidade — só há repressão.
Quantos mais terão de cair para que se faça justiça? Até quando os agentes da PRM continuarão a actuar como se estivessem acima da lei? E onde estão as vozes das autoridades que deveriam responder perante este abuso grotesco de poder?
Moçambique está a transformar-se num estado policial, onde trabalhadores pobres são caçados nas ruas como bandidos, enquanto os verdadeiros criminosos — os corruptos e os que saqueiam os recursos do país — continuam intocáveis.
Esta não é a polícia que o povo merece. É urgente uma reforma profunda, que devolva à PRM a sua missão constitucional de proteger e servir — e não de humilhar e agredir o próprio povo.