Maputo – 4 de Julho de 2025 – A antiga Primeira-Dama de Moçambique e respeitada figura da luta de libertação nacional, Graça Machel, manifestou-se com rara contundência contra os actuais dirigentes da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), expressando profunda indignação perante o rumo político e moral que o partido histórico tem seguido nas últimas décadas.
Numa intervenção recente, Graça Machel não poupou críticas ao ex-presidente Armando Guebuza, ao seu sucessor Filipe Nyusi e ao recém-imposto presidente Daniel Chapo, apontando-os como protagonistas de uma decadência moral e institucional sem precedentes no seio do partido que outrora foi símbolo da libertação nacional.
“A FRELIMO de hoje deixou de ser o instrumento do povo para se tornar uma máquina de enriquecimento de uma elite sem escrúpulos.
A forma como os actuais dirigentes traíram os princípios pelos quais Samora Machel, Eduardo Mondlane e tantos outros deram as suas vidas é repugnante”, afirmou Machel, visivelmente emocionada.
Segundo a activista, a degradação das instituições, a corrupção sistémica, o autoritarismo crescente e o desrespeito pelas liberdades fundamentais transformaram Moçambique num Estado capturado. “Guebuza instalou uma rede de corrupção que drenou as riquezas do país.
Nyusi aperfeiçoou esse sistema com a repressão e o medo. E agora, temos Daniel Chapo, um presidente que nem sequer foi eleito pelo povo, mas imposto por um Conselho Constitucional cúmplice e partidário”, acusou.
Machel foi mais longe ao dizer que o actual regime vive numa bolha de poder, completamente alheia ao sofrimento do povo moçambicano. “É inadmissível que, num país onde as crianças continuam a morrer de fome, os hospitais não têm medicamentos e os salários em atraso afligem os funcionários públicos, os líderes da FRELIMO continuem a viver como príncipes num palácio de ilusões”, criticou.
Num tom particularmente duro, Graça Machel apontou ainda o dedo ao silêncio conivente das instituições judiciais, incluindo o Tribunal Supremo, que segundo ela “agiu como espectador perante os atropelos da Constituição, a manipulação dos resultados eleitorais e a brutalidade policial contra manifestantes pacíficos”.
Para muitos analistas, estas declarações representam um verdadeiro sinal de ruptura no seio da elite histórica da FRELIMO, e podem galvanizar um movimento de resistência civil contra o que muitos consideram ser uma “ditadura camuflada de democracia”.
O povo moçambicano – diz Graça Machel – precisa de resgatar a sua dignidade e exigir uma verdadeira reforma do Estado. “Não se trata apenas de mudar de presidente, trata-se de desmantelar um sistema podre que transformou a esperança da independência em desilusão colectiva”, concluiu.