Áudio compromete Filipe Nyusi no escândalo das Dívidas Ocultas e leva Ministério Público a solicitar audiência
Um novo áudio, tornado público nos últimos dias, veio lançar ainda mais polémica em torno do escândalo das Dívidas Ocultas, considerado um dos maiores casos de corrupção da história de Moçambique. A gravação, cuja origem ainda está a ser investigada, revela um alegado esquema utilizado para proteger o ex-Presidente Filipe Nyusi, impedindo que o seu nome fosse formalmente implicado nas investigações conduzidas até agora.
De acordo com fontes judiciais, o conteúdo do áudio expõe manobras de bastidores que terão sido realizadas por figuras influentes do Estado e da segurança nacional, com o objetivo de blindar a imagem do antigo Chefe de Estado. Enquanto isso, várias personalidades do Governo, da banca e do setor empresarial foram levadas a tribunal e já cumprem pesadas penas de prisão.
Face a estas revelações, o Ministério Público decidiu solicitar oficialmente uma audiência com Filipe Nyusi, para que este possa prestar esclarecimentos sobre o seu eventual conhecimento e envolvimento nos contratos fraudulentos que resultaram numa dívida superior a dois mil milhões de dólares.
Recorde-se que este escândalo já abalou profundamente a imagem de Moçambique no plano internacional, levando a suspensões de apoios financeiros de parceiros externos e colocando o país numa grave crise económica.
Reacções e pressões crescentes
A divulgação do áudio provocou fortes reações na sociedade civil. Adriano Nuvunga, diretor do Centro para Democracia e Desenvolvimento (CDD), considerou que este é “o momento da verdade para a justiça moçambicana”, sublinhando que “não pode haver dois pesos e duas medidas. Se outros dirigentes foram julgados e condenados, também o ex-Presidente deve ser chamado a responder perante a lei”.
Já o analista político José Macuane afirmou que a pressão internacional poderá ser determinante para que o processo avance. “O escândalo das Dívidas Ocultas não é apenas um problema interno, é um caso que envolve bancos estrangeiros e investidores internacionais. Ignorar estas revelações seria hipotecar ainda mais a credibilidade do Estado moçambicano.”
Entre os cidadãos, multiplicam-se as vozes de indignação. Movimentos juvenis e organizações não-governamentais exigem transparência e responsabilização. “O povo não pode continuar a pagar por uma dívida que foi contraída de forma ilegal, apenas para enriquecer uma elite política e empresarial”, declarou Quitéria Guirengane, ativista e defensora dos direitos humanos.
Um teste à justiça
Com estas novas revelações, o caso das Dívidas Ocultas entra numa fase decisiva. A grande questão que se coloca agora é se o sistema judicial terá independência suficiente para ouvir Filipe Nyusi e, eventualmente, responsabilizá-lo.
Analistas internacionais alertam que qualquer tentativa de travar o processo poderá fragilizar ainda mais a imagem de Moçambique e comprometer futuras parcerias financeiras e diplomáticas.
O país aguarda com expectativa os próximos passos do Ministério Público, numa altura em que cresce a sensação de que a justiça moçambicana está diante de uma encruzilhada histórica: ou se afirma como um verdadeiro pilar do Estado de Direito, ou confirma as suspeitas de que existe uma justiça seletiva, incapaz de alcançar os que se encontram no topo da hierarquia política.
