Um recente estudo nacional veio expor um dado preocupante: apenas 11% dos moçambicanos afirmam não consumir bebidas alcoólicas. Na prática, isto significa que quase 9 em cada 10 cidadãos recorrem ao álcool, seja de forma ocasional ou regular, um número que levanta sérias preocupações de saúde pública e que exige reflexão profunda sobre as políticas de prevenção e de educação levadas a cabo pelo Governo.
Especialistas em saúde alertam que o elevado consumo de álcool tem consequências graves, não apenas ao nível físico, mas também social e económico. Entre os principais problemas estão as doenças do fígado, acidentes rodoviários, violência doméstica, degradação da saúde mental e perda de produtividade. Num país onde o sistema nacional de saúde já enfrenta enormes dificuldades estruturais, este panorama pode significar um aumento ainda mais pesado sobre hospitais e centros de saúde, que continuam sem os recursos adequados para lidar com a crescente procura.
Apesar destes sinais alarmantes, o Governo continua a mostrar uma postura tímida na criação de campanhas eficazes de sensibilização. Não existem programas consistentes de combate ao alcoolismo, nem estratégias sérias de apoio às famílias afectadas. Pelo contrário, a indústria de bebidas alcoólicas parece continuar a crescer, com publicidade agressiva que atinge sobretudo os mais jovens, muitas vezes sem qualquer fiscalização.
A situação demonstra uma contradição gritante: enquanto se fala em desenvolvimento e progresso, o Estado mostra-se incapaz de implementar políticas públicas que protejam a saúde da população. O consumo excessivo de álcool não pode ser encarado apenas como uma escolha individual, mas sim como um problema colectivo que exige intervenção urgente.
A elevada percentagem de moçambicanos que consome álcool é reflexo também da falta de oportunidades e de alternativas de lazer, num cenário marcado pelo desemprego, pobreza extrema e ausência de políticas sociais consistentes. O álcool acaba por se tornar, para muitos, uma fuga às dificuldades do quotidiano.
Se nada for feito, Moçambique arrisca-se a pagar um preço altíssimo nos próximos anos: uma geração cada vez mais fragilizada pela dependência, doenças associadas e o enfraquecimento do tecido social. O Estado não pode continuar a assistir de braços cruzados a este problema, sob pena de hipotecar o futuro do próprio país.
